quinta-feira, 25 de março de 2010

LIQUIDEZ

Num agonizante corre-corre
por centenas de afazeres
me esqueço da flor que morre,
passo os olhos, efêmeros prazeres.

Tudo passa num frenético vendaval.
Livros, leio partes de muitos de uma só vez
tropeço fugindo do temporal,
morro de angústia, contemporânea liquidez.

Hoje parei, freei de exaustão,
improdutivo e culpado debrucei na janela:
são só corpos que correm forjando lucidez.

Não quero mais tudo de uma só vez,
vou fazer o meu tempo em contratempo
sem cortar pelo Canal de Suez.

segunda-feira, 22 de março de 2010

LIBERDADE ?

Nas mãos já não temos a corda
que os nossos gargalos envolve.
Pelos ralos o sangue inda escorre,
é Narciso tomando outro golpe.

Catatônicos de tantas escolhas
forjadas pela tal Liberdade
já não escolho o que quero,
já não acredito em verdades.

Largaram de mão esse fio
deixando tudo meio misturado,
até o Papa está enganado!

À deriva neste navio
não obedecem mais os criados,
mataram Deus e o conservaram empalhado.

quinta-feira, 11 de março de 2010

INTERMÉDIO

Estou cheio de vazios,
lacunas de esperas infinitas,
cheio de achados perdidos
escorrendo pelos entre dedos.

É a vida que morre,
o rio que corre,
a pedra que fura.
Nada no meu mundo dura.

Estou cheio de nada
neste intermédio sem eixo,
me encontro num desencontro
quase desacreditado...
(J.P.Guéron)