quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

VIVO MORRENDO...

Vivo um tanto e mais um pouco
morrendo um quanto a cada instante.
Vivo morrendo de dores
de amores sempre distantes.

Morro dia após dia porque vivo.
Vivo porque ainda não estou morto.

Arranco a casca da vida com os dentes
com o intuito de saborear a poupa.
Rasgo toda a roupa,
mas nunca alcanço a semente.

Adoeço de amores efêmeros,
jamais encontrei um remédio,
vivo uma única certeza:
nesta vida não morrerei de tédio.
(J.P.Guéron)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

URGENTE

Calma, João,
deixa a roda rodar
deixa a vida viver
deixa o verde encorpar...
Não vá afobado
saborear essa insípida carne.

Enquanto o sumo
fermenta com o tempo
eu com ele me desentendo.
Meu maduro apodrece,
minha pétala mais bela
vacila ao desabrochar.

Calma, menino,
você ainda é João
achando ser Drummond.
Deixa a roda rodar,
deixa o verde encorpar,
deixa a vida viver...
(J.P.Guéron)

sábado, 13 de fevereiro de 2010

SEGREDO

Gosto de te falar,
arrombar pra ti.
Regurgitar tudo
tim-tim por tim-tim.

Falar de verdade,
abrir meu peito
sem muita piedade
pra deixar sangrar direito.

Mas assim não acerto,
não só não agüentas
como abandonas o trajeto.
Então, trato de bem esconder
meu belo tesouro secreto.

Pois é. Se tudo te entrego,
como quem pula pra nunca voltar,
agonizo como um toco oco
que se deixa consumar.
E tudo que pulsara algum dia,
depois desse asno orgasmo
lentamente se esfria.
(JPGuéron)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

E NÃO PARA DE VENTAR... (OU “ME ORGULHO POR SER HOMEM”)

Tecnologia:
coisa fria
que é fácil pros netos
e difícil pra tia.

Argumento:
coisa pra filósofo,
advogado e louco,
correndo atrás duma verdade
que inventamos aos poucos.

Vento:
Aquele que passa
recusa a cachaça
não procura não deprime
e muito menos acha graça.

Não sabe a verdade
e, na verdade
não tem argumento
nem um pingo de vaidade.
Nunca se pergunta:
O que é o vento?

Orgulho:
Por isso me orgulho,
sou homem e mergulho.
Não como o vento,
brisa fria
que se esvai sem lamento,
quando vê já se foi,
não para pra dizer adeus,
“nem um oi!”

Sou homem e mergulho,
me chafurdo no meu orgulho
pois invento!

Invento lamento
tecnologia e argumento,
invento verdades
e até sentimentos.
Sou homem e posso parar,
ao contrário do vento
que prometera nunca,
jamais se apaixonar.

(J.P.Guéron)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O MANTO

Acontece, caro amigo,
que poesia é arte
e não confissão ,
onde tudo é verdade.

É arte mais verdadeira
não por despir-se insanamente,
e sim, porque mente
sem dó nem piedade
dissimulando o que fora realidade.

A poesia é permissiva
e os carnavais também,
neles vestimos falsos mantos,
fingimos que zero é cem.

Aqui tudo podemos supor.
Nos permitimos fantasiar,
imitar, enrustir ou exaltar,
e até por inteligentes
nos fazemos passar.
(J.P.Guéron)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

FUTURO PRESENTE

O que tem a vida me dar
além de um futuro como presente?

Nada... Nada além...

Mas também não quero nada,
nada mais além de tudo isso.
Nada demais ou de menos, nada disso.

Quero simplesmente acordar:
carne sobre carne,
pés sobre o chão
numa unidade múltipla
na qual já não se diferem ser e ente.
...e me deliciar... pois, agora,
o futuro se torna presente.

(J.P.Guéron)