sábado, 29 de maio de 2010

O OUTRO

O outro é meu limite,
barreira meta e física
preservada a látex lubrificado.
O outro é o meu agite,
meu certo, meu errado.
Um eu não meu
que some sem dizer adeus. Interpreto...
O outro é imagem, campo, figura e fundo.
Um outro mesmo mundo
entrecruzado que me limita e me completa...
Que me abraça e sente de forma diferente,
é mistério...
O mal-bem-estar
que me faz vestido, inibido e repleto,
monogâmico, careta e secreto...
O outro me dá sentido,
me espalha e me faz espelho.
O outro é companhia para a solidão,
sol nas frias noites, coito. Fricção...
Pode ser parte minha, dele mesmo,
pura imaginação ou mero engano da visão.
O outro é parâmetro, lei e competição,
norma que estabelece o desvio padrão.
O outro é abismo ou outra coisa qualquer:
homem, criança, mulher...
Pulsão com direção.
Eu sou o meu outro.

domingo, 23 de maio de 2010

PRÉ-FABRICADO

Tudo que conto já vem pré-montado
de fonemas de tempos atrás...
Quando dei conta já me tinham inventado,
mal nasci fui entregue à carolice tenaz.

Nem sofrer precisei para me reinventar:
da vida voltei meio cheio de nada,
sob o braço uma identidade pré-fabricada
hermeticamente embalada e com modo de usar.

É nisso que dá chegar tão atrasado,
já de direção apontada e tudo mais...
Não me contento de carona neste style pasteurizado
abarrotado de tantos diferentes iguais...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

DYSPHONÍA

(...





...)
As palavras
não me dão conta...

sábado, 15 de maio de 2010

CARTA

Coração,
Vê se não pára
Só pramanhã poder bater mais forte
(seria baita falta de sorte!)
Faz sei lá...
Que nem a chuva
Que trata de nunca chover de uma só
Pra não afogar quem tá de baixo...
Trate de nunca me sair pela goela
E vê se fica na tua falando baixinho
Pois não me agrada esse tu falastrão.
Coração, coração,
Já providenciaras aqueles acertos,
Andas cumprindo sua função?
E aquela goteira do átrio esquerdo
Ainda goteja quer queira quer não?
Ah mas sim, te agradeço e a toda tua fisiologia...
Mas será que poderias cavalgar com maior destreza?
Sim, eu sei que é da tua natureza, mas
Por favor, fique em paz por esses dias...
Deixa-me dormir quando há noite,
Permita-me sonhar sem resposta ansiar.
Fique em paz coração...
Deixe umas também pra depois
E vê se fica quietinho descansando,
(Como me cansa esse bumbo sem norte!)

sábado, 8 de maio de 2010

ACIDENTE

Rasgaram meu circuito da eternidade
e desencaparam-me os fios do nada,
desse curto acidente fui empurrado
sem nem passaporte pra carimbar a entrada.

Não sei não,
acho que cismaram comigo...
Logo eu que estava lá
muito bem,obrigado,
pairando pelo infinito...

Mãe, Pai, por que me evocaram
pra curtir nessa realidade?
Logo eu que estava sem prazo de validade!

Comecei de puro iniciante,
de todas as vidas fui primeiro
desse eu meio torto, errante...

Eu que era nada inventei só uma metade
repetida e estofada de esquecimento.
Era aquele tudo que a escolha apagou
quando passeava de braços dados com o tempo...

Mas tudo bem. Já que estou por aqui
me deixo curtir no frasco perecível do verbo
para destilar da minha inodora essência
alguma coisa meio perfumada... (pontuada.)